quinta-feira, fevereiro 28
surpreendente...
Em Julho de 1980, foge da prisão e nos próximos dez anos é o homem mais procurado da Austrália.
O livro, autobiográfico, começa com a sua chegada a Bombaim onde trabalha como traficante de armas, de droga, é falsificador, contrabandista, e membro de uma das Mafias locais.
Foi torturado espancado e sofreu os horrores das prisões Indianas.
A descrição do caos de Bombaim é absolutamente maravilhosa, só falta o cheiro para que possamos dizer que já a conhecemos.
Metade da população vive e dorme na rua. E mesmo a dormir na rua, é preciso fazer turnos para que possam dormir deitados.
Com as cheias, os ratos são tantos, que a correr pelas ruas, devoram as pessoas se estas se mexem.
As personagens são ricas, como Prabaker o seu guia e amigo que tem morte trágica, o chefe da Mafia e filosofo Abdel Khader Knan, e Karla a mulher por quem se apaixona.
Em Bombaim há zonas de leprosos, que traficam os medicamentos que lhes dão para se tratarem. Há os Babas...
“Os Babas de pé eram homens que haviam feito votos de nunca mais na vida se sentarem ou deitarem. Comiam as refeições de pé, faziam a higiene de pé, rezavam, trabalhavam e cantavam de pé....
Durante os primeiros cinco a dez anos daquele estar de pé constante, as pernas começavam a inchar. O sangue movia-se lentamente nas veias exaustas e os músculos engrossavam. As pernas ficavam enormes, inchadas para além do reconhecível e cobertas de furúnculos varicosos roxos. Os dedos transformavam-se em excrescências dos pés carnudos, como os dedos das patas dos elefantes....
A dor era interminável e terrível. Ferrões e lanças de agonia perfuravam-lhes os pés a cada contacto com o chão.”
E há uma diversidade de quadros de vida em Bombaim cidade ao mesmo tempo terrível e fascinante, em cujas ruas apinhadas, caóticas e sujas se escondem aspectos essenciais da vida.
O seu código de honra e amizades levou-o às montanhas do Afeganistão, onde combateu ao lado de mujahedines contra as tropas soviéticas, onde foi ferido e quase morreu.
Sobre este livro escreveu-se:
"Uma obra-prima de intimidade, reflexão e entretenimento,
com toda a força e ritmo de um bom thriller."
Daily Telegraph
"Uma saga admirável e gigantesca."
London Daily Mail
"Um herói brutal, apaixonado e romântico."
London Telegraph
Tenho algumas reservas quando me chegam livros muito grandes, como é o caso, perto de 900 paginas.
Porque me esqueço dos personagens, dos seus nomes, e da importância que têm na narrativa.
Lembro-me que quando li os Cem Anos de Solidão, anotava num bloco os nomes para assim poder saber que Úrsula era a mulher de José Arcádio e que a bela Remédios Buendía era a sua filha.
Com este livro apesar do volume, tive pena de chegar ao fim
Livro muito bom que recomendo sem reservas.
Shantaram
Gregory D. Roberts
Quidnovi 22,46€
quinta-feira, fevereiro 21
ainda morro...
do coração.
na quadratura
Da questão essencial nada tem a dizer, é amigo de Mário Assis Ferreira, Presidente do Casino e entende que ele não faria nada de ilegal. Nem percebe, que se o Casino comprou e edifício porque razão não teria no fim da concessão direito ao mesmo. É Coelho no seu melhor, fala como se toda a gente fosse estúpida e o que é pior é que ele não tem consciência disso. Ele está convencido do que está a dizer. Sobre a alteração da Lei e do conteúdo da carta que Mário Assis Ferreira escreveu ao Ministro nem uma palavra.
Coelho é ao longo de todos estes anos o dirigente socialista mais básico que se conhece, não diz uma coisa inovadora, todas as suas ideias são lugares comuns, discursa sobre o obvio como se estivesse a defender uma tese e no programa terminou a dizer cinicamente que sobre a relevância criminal da forma como foi feita a alteração da lei, não se pronuncia porque isso é da competência das policias e do MP.
Isto é, sobre este problema Coelho diz nada.
Já Lobo Xavier diz que é preciso saber toda a verdade sobre o caso (claro) mas põe as mãos no fogo pela honestidade do seu correligionário Telmo Correia mesmo depois de saber do teor da carta que Mário Assis Ferreira lhe dirigiu.
cão
Cão rasteiro cor de luva amarela,
Apara lápis, fraldiqueiro,
Cão liquefeito, cão estafado
Cão de gravata pendente,
Cão de orelhas engomadas,
de remexido rabo ausente,
Cão ululante, cão coruscante,
Cão magro, tétrico, maldito,
a desfazer-se num ganido,
a refazer-se num latido,
cão disparado: cão aqui,
cão ali, e sempre cão.
Cão marrado, preso a um fio de cheiro,
cão a esburgar o osso
essencial do dia a dia,
cão estouvado de alegria,
cão formal de poesia,
cão-soneto de ão-ão bem martelado,
cão moído de pancada
e condoído do dono,
cão: esfera do sono,
cão de pura invenção,
cão pré fabricado,
cão espelho, cão cinzeiro, cão botija,
cão de olhos que afligem,
cão problema...
Sai depressa, ó cão, deste poema!
quarta-feira, fevereiro 20
já vi coisa parecida
Lembrando os factos.
O Banco de Portugal investiga eventuais irregularidades no BPN.
Oliveira e Costa vem para os jornais e para as televisões, de excelente saúde, dizer que não há irregularidades e que está a disposição do B.P.
Um mês depois renuncia por agravamento do seu “estado de saúde.”
Do inquérito do BP nada se sabe, e quer-me parecer que jamais se saberá.
Só falta saber o valor da reforma.
sexta-feira, fevereiro 15
esquecer o passado preparar o futuro
“Quero começar por fazer um aviso aos comentadores encartados, e em regra insultuosos, que surgem nos jornais on-line e nos vários fora radiofónicos diários. Este artigo é politicamente incorrecto e pode por eles até ser usado para demonstrar que aquilo que vou estigmatizar tem no meu texto a prova cabal de que devem continuar a agir como até aqui.”
Começa como se vê, à defesa, e continua.
Que artigo é então este que Júdice diz ser politicamente incorrecto:
inacreditável
Na Royal Academy of Arts vai estar em exposição durante o mês de Março obras de Lucas Cranach (1472–1553). Que foi um dos mais notáveis artistas da Renascença e um acérrimo defensor da Reforma.
Entre as suas obras mais conhecidas está Vénus, nua, pintada há 500 anos. A novidade é que o Tube de Londres proibiu a plubicidade da exposição nos seus corredores porque no cartaz estava a Vénus tal como vos mostro, sob o pretexto que pode ofender os passageiros.
Acreditam nisto?
Foi em Fevereiro de 2008
quarta-feira, fevereiro 13
os justos
Um homem que cultiva o seu jardim, como queria Voltaire.
O que agradece que na terra haja música.
O que descobre com prazer uma etimologia.
Dois empregados que num café do Sul jogam um silencioso xadrez.
O ceramista que premedita uma cor e uma forma.
O tipógrafo que compõe bem esta página, que talvez não lhe agrade,
Uma mulher e um homem que lêem os tercetos finais de certo canto.
O que acarinha um animal adormecido.
O que justifica ou quer justificar um mal que lhe fizeram.
O que agradece que na terra haja Stevenson.
O que prefere que os outros tenham razão.
Essas pessoas, que se ignoram, estão a salvar o mundo.
Jorge Luís Borges
segunda-feira, fevereiro 11
o que falta
Como foi largamente noticiado pela imprensa o deputado do CDS-PP Telmo Correia assinou cerca de três centenas de despachos como ministro do Turismo na madrugada do dia em que o novo executivo, liderado por José Sócrates, foi empossado no Palácio da Ajuda. Apesar de estar em gestão corrente, o ex-ministro do Governo de Santana Lopes fez uma verdadeira maratona após ter passado mais de uma dezena de dias sem ir ao Ministério do Turismo.
Entre os documentos assinados, estava a segunda versão do parecer da Inspecção-Geral de Jogos que implicava a não devolução ao Estado do edifício do Casino de Lisboa, no Parque Expo, no final da concessão à Estoril Sol.
O que seria agora importante era que a imprensa fosse investigar que outros 299 despachos foram assinados nessa noite.
Mas isso seria pedir muito.
quarta-feira, fevereiro 6
é pena...
domingo, fevereiro 3
a floresta
de Aleksandr Ostróvski está em cena na Cornucópia até 17 de Fevereiro.
Trata-se de uma sátira aos costumes na melhor tradição do Teatro Russo.
A proprietária, Raissa Pálovna - numa soberba interpretação de Márcia Breia - viúva muito rica e que se faz passar por virtuosa, sem o ser, dirige com mão de ferro a sua herdade e quem nela vive, os seus criados e protegidos, não os deixando ser felizes.
Na sua casa todos a veneram e todos a temem com medo de perder o pouco que lhes dá.
São dois actores ambulantes pobres – um dos quais um sobrinho há muito ausente - que um dia chegam à herdade de Gurmíjskaia, e destroem o equilibrio que a viúva criara à sua volta.
É possivel ou não ser feliz sem dinheiro? é possível ou não os escravos serem livres?
A comédia tem arquétipos de todo o tipo, não falta a avarenta, o pato bravo, a velha criada submissa, e o amante.
De Aleksandr Ostróvski grande dramaturgo está para o Teatro Russo como Moliére para o Francês e Shakespeare para o Inglês. Para se saber quem era, basta ler como via o seu trabalho.
“O dramaturgo não deve inventar o que aconteceu, tem de escrever como se isso acontecesse ou pudesse acontecer; é nisso que consiste o seu trabalho; se concentrar a sua atenção neste aspecto, vão aparecer na sua peça pessoas vivas, vão falar”
É talvez por isso que a peça apesar das três horas de duração consegue manter sempre dialogos vivos de encontros e desencontros.
Bom trabalho da Cornucópia com encenação Luis Miguel Cintra e cenografia de Cristina Reis e obrigatório para quem gosta de bom Teatro.