domingo, setembro 14

mais um...



Na entrevista ao Expresso deste fim de semana Morais Sarmento entre muitos disparates diz que se não for rico aos 50 anos provavelmente se candidata a primeiro ministro.
Duas notas:
a primeira é a facilidade com que esta gente se acha capaz de fazer tudo, não fosse esta história dos votos e tudo seria mais fácil.
a segunda é esta vontade de servir Portugal, se for rico vai andar de barco, se não for vai governar Portugal.
Deve medir a inteligência dos portugueses pela média da inteligência dos seus amigos.
Vou guardar o Sarmento na mesma gaveta onde já está o Lopes.

no centenário

NA MANHÃ SEGUINTE CESARE PAVESE 

NÃO PEDIU O PEQUENO ALMOÇO


Logo que desceu do comboio,

só, atravessou a cidade deserta,

entrou sozinho no desocupado hotel,

franqueou a porta do quarto individual,

e escutou com assombro o silêncio.

Dizem que levantou o auscultador

para chamar a alguém

nas é falso, completamente falso.

Como se houvesse alguém a quem chamar -

ninguém vivia na cidade, ninguém no mundo.

ingeriu a água, as pequenas drageias,

e esperou a chegada do sono.

Com um certo receio pela sua saúde -

tinha pela primeira vez firmado a sua existência -,

talvez curioso, com amolecidos gestos,

sentiu chegar o peso das pálpebras.

Horas depois - um enigmático sorriso

desenhava-lhe os lábios -

a si mesmo anunciou, convictamente,

a única certeza que no fim tinha adquirido:

jamais voltaria a dormir só num quarto de hotel.


Juan Luís Panero



sábado, setembro 13

brando...mas reles


Aprendi há muito tempo que as pessoas são muito mais importantes do que os papeis que representam sejam eles ou elas actores, médicos, políticos etc.

A leitura deste livro mostra que Brando não passava de um homem vulgar, no que é importante, na sua relação com os outros, e não basta ter sido militante da causa dos índios para que se tenha opinião diferente. Provavelmente andava a comer um chefe índio na altura.

Para além de se conhecer melhor Brando também se passa a conhecer melhor as centenas de homens e mulheres que se deitaram por cima e por baixo dele.

Críticas:
The Sunday Times “Escabroso, obsceno e penetrante... há uma revelação surpreendente em quase todas as páginas. Empolgante... Este livro é digno de ser lido.” Los Angeles' Frontiers Magazine “Deliciosamente reles, com histórias que são tão divertidamente escandalosas que dá vontade de mandar as manifestações de incredulidade pela janela fora.” Direcção editorial da The Georgia Literary Association “Original e por vezes surpreen-dente, Brando mas pouco documenta uma vida de enormes excessos que Hollywood podia ter produzido.” Women's Weekly “Darwin Porter pinta um retrato extraordinariamente pormenorizado de Brando, um retrato que é tão cru, implacável e ‘para adultos’ como o próprio Brando.” Le Journal du Dimanche “Brando mas pouco contém importantes revelações sobre o actor norte-americano. O seu autor passou 50 anos a recolher material meticulosamente documentado.” Bookmarks “Brando mas pouco é DELICIO-SO. Praticamente todas as páginas desvendam um pedaço fascinante. Uma leitura irresistivelmente divertida.” The New York Daily News “Brando mas pouco é o guia dos mexericos da vida deste grande actor já falecido.”

Só não dizem que Brando gostava tanto dele que não era capaz de gostar dos outros.

quarta-feira, setembro 10

a cidade...


Ontem desloquei-me à ordem dos arquitectos onde Frederico Valsassina e Manuel Aires Mateus apresentaram, numa sessão pública o seu projecto de construção de um edifício de habitação e comércio no Largo do Rato, em Lisboa.

Fui com alguma expectativa, já que o que tinha lido apresentava o edifício como uma coisa que se devia evitar construir a todo o custo.

Depois do projecto de arquitectura ter sido aprovada em 22 de Julho de 2005 a proposta de emissão da licença de construção apresentada por Manuel salgado em 30 de Julho foi chumbada por todos os membros da oposição, alguns dos quais tinham já aprovado o projecto de arquitectura.

O Instituto Português do Património Arquitectónico, IPPAR (hoje Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico) considerou o projecto «urbanisticamente favorável» e propôs a sua aprovação. 


Na sala estavam mais que 400 pessoas entre os quais  Helena Roseta e Manuel Salgado.

Os autores explicaram o projecto, e mais tarde defenderam-se das criticas que alguns dos presentes lhes fizeram, nomeadamente sobre a altura do edifício sobre a monumentalidade que lhe atribuem e sobre a sombra que projectará na sinagoga dois edifícios mais ao lado.

Devo dizer que poucas vezes assisti a um debate com a qualidade deste.

Das criticas que foram feitas - a maioria gostava do projecto- defenderam-se os arquitectos não só com a lei - altura das cércea-, como com a qualidade do edifício, o porquê do seu revestimento a pedra, a razão porque o levantaram do chão, etc.

Considerei que defenderam muito bem a sua proposta e saí dali convencido que aquele edifício enriquece a cidade de Lisboa.


No entanto, a determinada altura começou a criar-se a ideia que o edifício a ser ali construído deveria ser uma “coisa” que seria criada à medida que as pessoas iam fazendo sugestões. Uma dizia que o edifício deveria ter menos pisos, outros que não deveria ser tão grande, outros que se deveria ali reconstruir a pequena escala do mamarracho que lá está. Enfim, mas pessoas não percebem que um debate sobre um edifício não é para se fazer um edifício de acordo com o gosto da maioria.

Os arquitectos devem antes de o projectarem ouvir a cidade para que o que aí construírem seja também uma obra saída da discussão. Mas depois disso devem ser os arquitectos que têm a responsabilidade de criarem um edifício de acordo com a sua sensibilidade e qualidade estética.

Para certificarem a qualidade arquitectónica lá estarão os serviços da câmara que devem ser compostos por pessoas sérias, isentas e idóneas.

Quero eu dizer que a discussão deve ser democrática mas a decisão tem de ser de quem assina o projecto.

Depois o  reconhecimento público de uma carreira na arquitectura é feita pela quantidade de projectos em que os arquitectos souberam interpretar o sentir colectivo.

O debate durou três curtas horas e saí a pensar :porque será que só as grandes obras suscitam discussão, já que todos os dias se constroem prédios horríveis em Lisboa e sobre eles não se escreveu uma linha.