quarta-feira, setembro 10

a cidade...


Ontem desloquei-me à ordem dos arquitectos onde Frederico Valsassina e Manuel Aires Mateus apresentaram, numa sessão pública o seu projecto de construção de um edifício de habitação e comércio no Largo do Rato, em Lisboa.

Fui com alguma expectativa, já que o que tinha lido apresentava o edifício como uma coisa que se devia evitar construir a todo o custo.

Depois do projecto de arquitectura ter sido aprovada em 22 de Julho de 2005 a proposta de emissão da licença de construção apresentada por Manuel salgado em 30 de Julho foi chumbada por todos os membros da oposição, alguns dos quais tinham já aprovado o projecto de arquitectura.

O Instituto Português do Património Arquitectónico, IPPAR (hoje Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico) considerou o projecto «urbanisticamente favorável» e propôs a sua aprovação. 


Na sala estavam mais que 400 pessoas entre os quais  Helena Roseta e Manuel Salgado.

Os autores explicaram o projecto, e mais tarde defenderam-se das criticas que alguns dos presentes lhes fizeram, nomeadamente sobre a altura do edifício sobre a monumentalidade que lhe atribuem e sobre a sombra que projectará na sinagoga dois edifícios mais ao lado.

Devo dizer que poucas vezes assisti a um debate com a qualidade deste.

Das criticas que foram feitas - a maioria gostava do projecto- defenderam-se os arquitectos não só com a lei - altura das cércea-, como com a qualidade do edifício, o porquê do seu revestimento a pedra, a razão porque o levantaram do chão, etc.

Considerei que defenderam muito bem a sua proposta e saí dali convencido que aquele edifício enriquece a cidade de Lisboa.


No entanto, a determinada altura começou a criar-se a ideia que o edifício a ser ali construído deveria ser uma “coisa” que seria criada à medida que as pessoas iam fazendo sugestões. Uma dizia que o edifício deveria ter menos pisos, outros que não deveria ser tão grande, outros que se deveria ali reconstruir a pequena escala do mamarracho que lá está. Enfim, mas pessoas não percebem que um debate sobre um edifício não é para se fazer um edifício de acordo com o gosto da maioria.

Os arquitectos devem antes de o projectarem ouvir a cidade para que o que aí construírem seja também uma obra saída da discussão. Mas depois disso devem ser os arquitectos que têm a responsabilidade de criarem um edifício de acordo com a sua sensibilidade e qualidade estética.

Para certificarem a qualidade arquitectónica lá estarão os serviços da câmara que devem ser compostos por pessoas sérias, isentas e idóneas.

Quero eu dizer que a discussão deve ser democrática mas a decisão tem de ser de quem assina o projecto.

Depois o  reconhecimento público de uma carreira na arquitectura é feita pela quantidade de projectos em que os arquitectos souberam interpretar o sentir colectivo.

O debate durou três curtas horas e saí a pensar :porque será que só as grandes obras suscitam discussão, já que todos os dias se constroem prédios horríveis em Lisboa e sobre eles não se escreveu uma linha.


 


2 comentários:

Anónimo disse...

"Na sala estavam mais que 400 pessoas"(...)
Número histórico e apenas presenciado por V.Exa! Tendo em conta que, na melhor das possibilidades, a lotação máxima exequível para aquele auditório é de 100/150 pessoas (isto a esticar ao limite).
A opiniões, de facto, valem o que valem... e as imprecisões também!

Anónimo disse...

Quem conta um conto, acrescenta um ponto! Neste caso umas centenas de pontos!