segunda-feira, agosto 25

na estação própria


Primavera, Verão, Outono: dias em que se adivinha
Um mundo prévio aos nossos conhecimentos, em que
As flores pensam na concretude do cheiro das cores
E animais de idade indefinida perseguem vidas irrisórias,
Horizontais, evitando serem, com esse nível de conduta,
Assessores da intriga do homem para se tornar divino.

Um metrónomo infalível instala-se em tudo: assim, em Maio
Crias de pássaros no ovo gritam às outras: Nasçam!,
Os cucos surpreendidos por junho desafinam; quando Julho
Obeso liga o calor da terra, desembaraçando amarras venenosas,
As víboras entram na festa; avisadas pelo beliscão de Outubro
As folhas novas dão às velhas o puxão libertador.

Todavia, o Inverno tem o verbo certo de um olhar caseiro
Para nós mesmos, sentados cara a cara com os Nomes Próprios,
Tempo para ler os pensamentos, o tempo exacto
De experimentar novos metros e novas receitas,
De reflectir nos factos que meses mais quentes trouxeram
Até que, transmudados, façam parte de uma história humana.

Aí, respondendo à nossa exigência de compreensão,
A Natureza afrouxa o esgar até um arreganho mutável,
Pedras, sapatos velhos, renascem como signos sacrificiais,
Acenam-nos na Primeira Pessoa dos mistérios
Que desconhecem, acertando uma mensagem
Da única Fonte invisível do singular das coisas.

W.H. AUDEN (1907-1973)
O Massacre dos Inocentes

quarta-feira, agosto 13

conversa à hora de almoço

Num restaurante em Alcântara.
Numa mesa ao lado conversavam dois homens um conhecido como apoiante do compromisso Portugal e outro que não conheço.
Diz um
Eu gosto é de comer brasileiras
Diz o outro, o do compromisso, brasileiras depende mas a melhor foda que dei foi com uma turca. A gaja até chorava.
Diz um
mas as chinesas “tamem” são muita boas.
Diz o do compromisso
Eu chinesas nunca comi o mais parecido foram vietnamitas, e também comi umas gajas de Hong Kong.
A conversa acabou, pediram a conta e antes de sair o do compromisso ajeitou a gravata e saiu com ar de quem ia resolver os nossos problemas.

fim das férias


A participação dos atletas portugueses nos Jogos Olímpicos de Pequim de acordo com a imprensa tem-se pautado por um enorme fiasco.
È a Telma e o João Neto que ficam em nono no judo é o Nuno Pombo que no tiro ao arco não passa da 1ª eliminatória é o espada Joaquim Videira que não passa da 2ª eliminatória é a Débora Nogueira que não passa da 1ª eliminatória do florete é o Tiago Venâncio que fica em ultimo lugar nas eliminatórias de natação são os velejadores que não velejam como os jornalistas esperavam, é o homem do tiro que não acerta como se gostava etc. etc.
Não sei a que propósito se exigem grandes comportamentos aos nossos atletas. Acaso sabem os jornalistas em que condições eles se treinaram, com que técnicos, com que subsídios, para poderem exigir comportamentos de excepção? Já se comparou o que gasta o estado português com a preparação dos atletas olímpicos e o que gasta por exemplo um estado europeu da mesma dimensão que Portugal .
Qual é a dinamização do desporto na nossa sociedade. Que desporto se pratica nas escolas e com que apoios? Se não fossem os clubes de bairro que atletas teria Portugal?
Se o nível de representação reflecte a qualidade do Desporto que se pratica no País que outros resultados eram esperados?
Excepções são os resultados que alguns conseguem e que o País nada fez para os merecer.
Mesmo para os atletas que apesar de se esforçarem não conseguiram grandes classificações, não lhes devemos estar gratos por perseguirem sonhos que parecem impossíveis?