quarta-feira, janeiro 30

escritos de loucura normal


Carta aos Médicos-chefes dos Manicómios

Senhores,
As leis e os costumes concedem-vos o direito de medir o espírito. Essa jurisdição soberana e temível é exercida com vossa razão. Deixai-nos rir. A credulidade dos povos civilizados, dos sábios, dos governos, adorna a psiquiatria de não sei que luzes sobrenaturais. O processo da vossa profissão já recebeu seu veredicto. Não pretendemos discutir aqui o valor da vossa ciência nem a duvidosa existência das doenças mentais. Mas para cada cem supostas patogenias nas quais se desencadeia a confusão da matéria e do espírito, para cada cem classificações das quais as mais vagas ainda são as mais aproveitáveis, quantas são as tentativas nobres de chegar ao mundo cerebral onde vivem tantos dos vossos prisioneiros? Quantos, por exemplo, acham que o sonho do demente precoce, as imagens pelas quais ele é possuído, são algo mais que uma salada de palavras?
Não nos surpreendemos com vosso despreparo diante de uma tarefa para a qual só existem uns poucos predestinados. No entanto rebelamos-nos contra o direito concedido a homens – limitados ou não – de sacramentar com o encarceramento perpétuo as suas investigações no domínio do espírito.
E que encarceramento! Sabe-se – não se sabe o suficiente – que os hospícios, longe de serem asilos, são pavorosos cárceres onde os detentos fornecem uma mão-de-obra gratuita e cómoda, onde os suplícios são a regra, e isso é tolerado pelos senhores. O hospício de alienados, sob o manto da ciência e da justiça, é comparável à caserna, à prisão, à masmorra. Não levantaremos aqui a questão dos internamentos  arbitrários, para vos poupar o trabalho dos desmentidos fáceis. Afirmamos que uma grande parte dos vossos pensionistas, perfeitamente loucos segundo a definição oficial, estão, eles também, arbitrariamente internados. Não admitimos que se freie o livre desenvolvimento de um delírio, tão legítimo e lógico quanto qualquer outra sequência de ideias e actos humanos. A repressão dos actos anti-sociais é tão ilusória quanto inaceitável no seu fundamento. Todos os actos individuais são anti-sociais. Os loucos são as vítimas individuais por excelência da ditadura social; em nome dessa individualidade intrínseca ao homem, exigimos que sejam soltos esses encarcerados da sensibilidade, pois não está ao alcance das leis prender todos os homens que pensam e agem.
Sem insistir no carácter perfeitamente genial das manifestações de certos loucos, na medida da nossa capacidade de avaliá-las, afirmamos a legitimidade absoluta da sua concepção de realidade e de todos os actos que dela decorrem.
Que tudo isso seja lembrado amanhã pela manhã, na hora da visita, quando tentarem conversar sem diccionário com esses homens sobre os quais, reconheçam, os senhores só têm a superioridade da força.
(Escritos de Antonin Artaud)

terça-feira, janeiro 29

mudam as moscas


A propósito desta remodelação governamental é bom que não percamos de vista, que não há políticas de ministros mas sim de governos.
Para contas futuras.

segunda-feira, janeiro 28

noticias de jornal


"Um caça F-16 da Força Aérea Portuguesa despenhou-se hoje perto da base de Monte Real, Leiria, mas o piloto ejectou-se, não havendo até ao momento registo de mortos, disse à Lusa fonte militar."
Sabe-se agora, de acordo com o Ministério da Defesa,  que se tratava de um treino simulado para testar o mecanismo do assento.

"O antigo bastonário da Ordem dos Advogados (OA) José Miguel Júdice criticou hoje o actual bastonário, em declarações ao Rádio Clube, por não concretizar as acusações que fez sobre alegados actos de corrupção por dirigentes do Estado."
Ao mesmo tempo que constitui advogado para se defender das acusações.

"Dois terços das perguntas dos deputados ao Governo estão sem resposta"
Questionado o Governo diz que tem coisas mais importantes para responder.

Oliveira e Costa Presidente do BPN diz que nada tem a esconder. 
Estas declarações foram prestadas depois de uma visita ao estrangeiro onde se encontrou com David Coperfield

"Satélite espião norte-americano vai cair na Terra mas não se sabe onde nem o que traz lá
dentro."
"O carburante mais comum nestes corpos celestes é a hydrazina, uma substância química altamente tóxica. Ela enche os depósitos dos aparelhos ditos "clássicos". Mas como se desconhece que corpo é o que está em queda, não se sabe o que é que ele traz dentro. Este químico, irritante, ataca o sistema nervoso central e numa dose mais forte pode ser letal."
Aqui está uma boa noticia para me fechar em casa.

benfica, que futuro? 1

Não gosto de pessoas com a personalidade de Camacho.
Estão sempre desconfiadas com as perguntas que lhes fazem, mostram sempre grande enfado quando estas não lhes agradam procurando desta forma condicionar novas perguntas. Nunca encaram os jornalistas de frente e nunca procuram ouvir e responder em função da pergunta. As respostas são sempre as mesmas, mesmo que nada tenham a ver com as perguntas.
São normalmente comportamentos de pessoas arrogantes e incompetentes, e podemos encontrar personalidade parecida, para não ir mais longe, em Scolari.
De uma coisa tenho a certeza, do jogo ele não quer nem sabe falar.
E este comportamento tem resultado porque a qualidade média dos nossos jornalistas desportivos é igual à qualidade de Camacho. Por isso nunca lhe fizeram as perguntas que lhe deveriam fazer.
Por exemplo:

Queixa-se com frequência que a qualidade do plantel não é do seu agrado, mas para ganhar ao Belenenses, Braga, Guimarães, Leixões Setúbal e a outras equipas que lutam para não descerem de divisão precisa de ter um plantel melhor?

Diz, sempre que empata ou perde, que as bolas não entraram apesar da equipa ter criado oportunidades. Mas então os níveis de eficácia não se treinam? A finalização não faz parte das disciplinas de treino? E se as vitórias são uma questão de sorte que faz Camacho à frente da equipa? Não poderia ser outra pessoa que ganhasse menos e tivesse mais sorte?

Porque razão o guarda redes Quim pontapeia a bola 20 vezes durante um jogo e destas 18 vão para um adversário.
Já lhe disse que a bola deve ser passada aos defesas ou aos médios para iniciar uma jogada de ataque?
E se já lhe disse que faz ele na equipa?

Nelson, em cada vinte lançamentos que faz da linha lateral 10 vão directamente para adversários.
Já lhe disse que os adversários só marcam golos se tiverem a posse de bola?
E se já lhe disse que faz ele na equipa?

Há pelo menos dez equipas na 1ª liga que jogam melhor futebol que o Benfica apesar de terem orçamentos vinte vezes menores. Será que isto não quer dizer nada.
Quer Camacho quer a imprensa só falam de valores individuais, se Cardoso jogou bem, se Rui Costa aguentou os noventa minutos, se Luisão mantém ou não a forma dos anos anteriores. Enaltece-se a qualidade de se jogar em equipa mas só se fala de individualidades.
Claro que as individualidades só têm importância quando o colectivo não joga futebol.
Então e a equipa. Defende bem? Ataca bem? Os médios conseguem fazer chegar a bola aos avançados? Percebe-se que o Benfica tem um estilo de jogo? E o futebol que o Benfica joga, chama mais gente aos estádios ou afasta-os?
A esta pergunta Camacho responde.
“Não é importante quem marca golos o importante é que se marque.”
Com esta resposta Camacho esconde duas coisas.
A incapacidade de o Benfica apresentar um modelo de jogo de ataque, e o desperdício de gastar uma fortuna com vários jogadores e depois não saber tirar partido das suas características.

Outro aspecto importante prende-se com o facto que com Camacho nenhum jovem vê confirmadas as suas qualidades.Prefere o cinzentismo de Maxi Lopes à criatividade de Di Maria prefere o futebol cacete de Petit ao risco Freddy Adu a ineficácia de Nuno Gomes à fantasia de Mantorras.

Camacho nunca assume riscos e a equipa no campo também não os assume.
Ou melhor, só assume o risco de perder e nunca o de ganhar.
Quando a equipa esta empatada ou a perder, faz sempre as mesmas substituições e mesmo quando os suplentes ajudam a resolver, no jogo seguinte lá estão nos seus lugares, isto é no banco de suplentes.
Que motivação é esta. Que estímulos são estes. É assim que se motivam jogadores?
É corrente dizer-se que o que distingue um bom de um mau treinador é a sua capacidade de potenciar a qualidade dos seus jogadores.Camacho confirma em absoluto esta teoria. Os bons jogadores com Camacho são médios e os médios jogadores são maus. É por isso sendo o plantel do Benfica constituído em média por jogadores médios, formam uma má equipa.
Não há diferença significativa entre este Benfica e o Benfica de Fernando Santos, ambos praticam mau futebol apesar do capital investido este ano.

Só espero é que desta vez, não se contratem os jogadores que Camacho gosta - e nós sabemos que tipo de jogadores ele gosta – e no fim da época vai o Camacho e ficam os jogadores.

Ao Benfica cabe-lhe responder às seguintes perguntas.
Que politicas de contratação quer o clube.?
É aceitável que se gastem milhões de euros em jogadores que não jogam? Que responsabilidades tem o treinador que recomenda a contratação de um jogador e não o põe a jogar?
Quem define o modelo de jogo é o clube ou o treinador?
Se for o clube, como entendo que deve ser, deve ser também o clube a contratar.
É o perfil do treinador Camacho – pouco ambicioso no modelo de jogo,antiquado nos métodos, mau potenciador da qualidade futebolística dos jovens jogadores – o adequado para tornar o Benfica de novo numa grande equipa de futebol?
Não
Da responsabilidade do Presidente falarei num post próprio.

P.S. estava prometido este post há algum tempo, mas só depois de uma vitória – que vai servir para mascarar a realidade – encontrei o estimulo que precisava.

quarta-feira, janeiro 23

os trapalhões


GOVERNAM PARA A TELEVISÃO. Fazem legislação para as sondagens. Tomam medidas para mostrar trabalho feito. São peritos em encenação. Vivem obcecados com a propaganda. Anunciam a ideia, anunciam o projecto, anunciam a correcção, anunciam a revisão, anunciam o concurso, anunciam a adjudicação, anunciam a decisão prévia, anunciam a nova correcção, anunciam a primeira inauguração, anunciam a segunda inauguração... As suas decisões servem para afirmar autoridade, sem que o seu conteúdo ou a sua bondade tenham qualquer relevo. Fazem obra para criar emprego, satisfazer os amigos, colocar os correligionários e gastar dinheiro. Como disse o bastonário da Ordem dos Engenheiros, Fernando Santo, o governo tem cada vez menos capacidade técnica e científica para preparar e tomar decisões. Os ministros confiam nos amigos, no partido e nas empresas complacentes e desprezam as opiniões técnicas e independentes. Os directores-gerais e os presidentes de institutos têm de ser de confiança política, também eles trabalham para as eleições. E o Parlamento? Poderá perguntar-se. Esse vive em sabática de competência. E em jejum de qualificações. Só nos resta acreditar no aforismo: quem governa pela propaganda, pela propaganda morre.
António Barreto «Retrato da Semana» - «Público» de 20 de Janeiro de 2008

domingo, janeiro 20

não tem fim...


A Procuradoria-Geral da República  anunciou  que foi deduzida acusação contra seis arguidos do processo Bragaparques, incluindo o ex-presidente da Câmara de Lisboa Carmona Rodrigues e os antigos vereadores Fontão de Carvalho e Eduarda Napoleão.

“Em causa está a condução por responsáveis eleitos para a Câmara Municipal de Lisboa do processo que conduziu à aquisição pela Parque Mayer/Bragaparques dos terrenos antes ocupados pela Feira Popular,” explicou a PGR.

O caso Bragaparques remonta ao início de 2005 quando a Assembleia Municipal de Lisboa aprovou por maioria, à excepção da CDU, a permuta dos terrenos do Parque Mayer, da Bragaparques, por parte dos terrenos camarários no espaço da antiga Feira Popular, em Entrecampos.

O negócio envolveu ainda a venda em hasta pública do lote restante de Entrecampos, que foi adquirido pela mesma empresa, que exerceu um direito de preferência que viria a ser contestado pela oposição na autarquia lisboeta.

Mas nada vai acontecer.

A tragédia é que nem eles são condenados, nem demitidos por incompetência  os magistrados que os acusam.


sábado, janeiro 19

iguais...


O Banco de Portugal como se sabe, não supervisiona a Banca, apesar de dever fazê-lo.

Diz  Vítor Constâncio que não tem meios e que confia nos Administradores sobre as informações que lhes pede e que aqueles lhe dão.

Sobre a KPMG que fiscaliza as contas do banco nada se diz, mas esta já disse que informava o Banco de Portugal das irregularidades do BCP.

Temos assim que o poder de supervisão do Banco de Portugal funciona desta maneira.

O Governador pergunta e o Banco mente.

E o Governador sabe que o Banco mente.

Podemos dormir descansados.

Só não podemos, porque aparece agora Manuela Ferreira Leite a dizer que devemos ter cuidado com as criticas ao Banco de Portugal para não destabilizar o Mercado Financeiro.


Hoje eles amanhã nós

não percebo...


Não consigo perceber o que faz ainda o José Manuel Fernandes como Director do Público

o preço do silêncio

Sabe-se agora que o ex-presidente da Comissão Executiva (CEO) do Banco Comercial Português (BCP), Paulo Teixeira Pinto, de 47 anos, saiu do BCP  com uma indemnização de 10 Milhões de Euros e uma reforma vitalícia para o casal de 35 mil euros por mês  durante 14 meses. Os 10 milhões de euros são para que Teixeira Pinto não volte a exercer funções em instituições bancárias concorrentes. Situação pouco provável, atendendo aos maus resultados conseguidos durante o exercício do seu mandato. Quero crer que este valor foi pago para que não divulgasse, entre outros, os  obscuros segredos das  off-shores.

Reforma vitalícia para o casal significa que mesmo que ele morra a mulher, Paula Teixeira da Cruz, continua a beneficiar desta reforma.

É verdadeiramente inacreditável o que se passa no nosso País nesta matéria.

Por um lado enchem as páginas dos jornais dizendo que se deve ganhar em função do mérito e depois negoceia-se coisas destas.

Teixeira Pinto parecia querer lutar contra a prepotência do fundador mas percebe-se agora os argumentos utilizados para ter renunciado à Presidência do BCP.

Estranho também que a mulher tenha aceite ser parte neste acordo como se sentisse merecedora de um prémio de reforma do marido nestas circunstâncias.

Entretanto o Banco anunciou que vai apresentar resultados mais baixos que no ano anterior, e uma das razões que invoca é o pagamento de indemnizações aos seus Administradores.

Para quem enchia a boca de valores éticos, estamos conversados.

São assim os Banqueiros de Deus.

sexta-feira, janeiro 18

gazela da morte obscura

Quero dormir o sono das maçãs, 

fugir do tumulto que há nos cemitérios. 

Quero dormir o sono do menino 

que queria cortar seu coração no alto - mar. 


Não quero que me repitam que os mortos não perdem o sangue; 

que a boca impaciente continua a pedir água. 

Não quero inteirar-me dos martírios que a erva nos dá, 

nem da lua com boca de serpente 

que trabalha antes do amanhecer. 


Quero dormir um pouco, 

um pouco, um minuto, um século; 

mas saibam todos que ainda não morri; 

que em meus lábios há um estábulo de ouro; 

que sou o querido amigo do vento Oeste; 

que sou a sombra imensa das minhas lágrimas. 


Cobre-me com um véu ao amanhecer, 

pois vai atirar-me mãos cheias de formigas, 

e com água dura molhar meus sapatos 

para mais deslizar o ferrão do seu lacrau.

 

Porque quero dormir o sono das maçãs 

para aprender um pranto que me limpe de terra; 

porque quero viver com o menino obscuro 

que queria cortar seu coração no alto - mar. 


Federico Garcia Lorca

sábado, janeiro 12

Cassandra’s Dream


Gosto muito de Woody Allen.

Sempre que estreia um filme seu, vou ver, porque sei que vou ver um filme sobre pessoas, quase sempre numa historia bem contada.

Nem todos os seus filmes são obras primas. Mas são sempre filmes  com uma direcção de actores excepcional que merecem ser vistos. 

Outra vez situado em Londres, “Cassandra’s Dream” magnificamente interpretado por  Ewan McGregor e Colin Farrell, dois irmãos que cometem um crime bárbaro em troca de ascensão social. Entre ambição desmedida e mentiras o filme vai-se desenvolvendo até que cometem um homicídio.  O drama passa então a desenvolver-se a partir dos problemas de consciência, de um dos irmãos,  agravada pela diferença significativa das suas personalidades o que os conduz a uma tragédia ainda maior.

O Sonho de Cassandra  é um filme com muito boas interpretações, realizado com elegância e economia de meios, Woody Allen fez um filme hipnotizante, que conta com uma banda  sonora original, assinada por Philip Glass, que muito contribui para a boa atmosfera do filme.


Fico à espera do próximo filme que entretanto já realizou agora em Barcelona com Penélope Cruz a Scarlett Johansson.


quinta-feira, janeiro 10

o novo aeroporto

Disse em 22 de Novembro de 2005 o Primeiro-Ministro na sessão de encerramento da Apresentação Pública do Novo Aeroporto «Lisboa 2017: Um aeroporto com futuro”
“Mas, a verdade, é que de todas essas localizações a melhor, aquela que melhor serve os interesses do País é a da Ota.”
Em 27 de Maio de 2007 disse Mário Lino Ministro das Obras Públicas 
«O que eu acho faraónico é fazer o aeroporto na Margem Sul, onde não há gente, onde não há escolas, onde não há hospitais, onde não há cidades, nem indústria, comércio, hotéis e onde há questões da maior relevância que é necessário preservar.»
No entender de Mário Lino, o novo aeroporto devia ser na Ota porque «corresponde à estratégia de desenvolvimento que o Governo entende que deve ser seguida, onde está 40 por cento da população, onde estão as vilas, aldeias, indústrias e comércio, hotéis e turismo». Disse ainda o ministro que já tinham sido abertas propostas de três consórcios internacionais de projectos de arquitectura.
Parecia que nada impedia que se fizesse um aeroporto em que poucos percebiam as vantagens.
A polémica foi tanta, que depois de vários estudos apresentados pelos Lobis dos interesses aos
dois locais possíveis, Ota e Alcochete, o Governo manda o LNEC fazer um estudo. E o LNEC estuda e diz que Alcochete é a melhor localização, e diz também que é do ponto de vista técnico e financeiro é globalmente mais favorável do que a Ota.

Hoje Primeiro Ministro anuncia ao País que o novo aeroporto vai ser em Alcochete.

Dois aspectos essenciais a reter.

1º Estava tudo em condições para se fazer um aeroporto de 5,1 Mil Milhões de euros que se sabe agora não servia os interesses do País.

2º O mesmo Governo que ia fazer um aeroporto onde não fazia falta teve coragem (apesar de
pressionado) de emendar a mão e voltar atrás com uma decisão que já estava tomada.

Faltam agora quatro coisas.
A demissão do Ministro das Obras Públicas (nada nos garante que em futuras obras a leviandade não seja a mesma)
Que o Governo no futuro ponha à discussão Publica obras importantes para que não se
cometam erros destes.
Que sejam divulgados os custos dos seis estudos e relatórios de análise que foram realizados por consultores internacionais, a quem o Governo pediu, nestes últimos cinco meses para, olhando
para os estudos realizados, poderem confirmar as conclusões que Ota era a melhor solução.
Saber se foi negociado com a Lusoponte o valor a pagar por se ter que fazer uma nova ponte sobre o Tejo.
Ah, e a partir de hoje vamos assistir aquele Carnaval interessantíssimo que é ver os mesmos personagens que defendiam a Ota passarem a defender Alcochete com os mesmos argumentos e com a mesma convicção.
É sempre a parte mais engraçada, quando nos querem fazer passar por tolos.

um homem sem qualidades


Caiu definitivamente a mascara a Sócrates.
Prometeu referendar o Tratado Europeu e apesar de ser uma promessa que consta no programa de Governo vai propor a ratificação do Tratado por via Parlamentar, exactamente ao contrário do que fez com a lei da despenalização do aborto, em que poderia aprová-la no Parlamento e decidiu referendá-la.
Tudo evidentemente em nome do interesse europeu.
A opinião dos cidadãos nesta matéria não é para ele importante.
Não precisava de invocar as pressões que outros dirigentes europeus lhe teriam feito, porque ninguém acredita nisso.
Como se Gordon Brown, Sarkozy, ou Angela Merkel precisassem de Sócrates para alguma coisa.
Nada que não se esperasse. Já aqui o tinha escrito.
Esta atitude do primeiro ministro levanta uma questão que é esta.
Qual é a importância que ele atribuiu aos cidadãos quando se trata de decisões fundamentais para a nossa vida colectiva?
Nenhuma.
Definitivamente não presta.

quarta-feira, janeiro 9

No ponto onde o silêncio


No ponto onde o silêncio e a solidão
Se cruzam com a noite e com o frio,
Esperei como quem espera em vão,
Tão nítido e preciso era o vazio.

Sophia de Mello Breyner Andresen


terça-feira, janeiro 8

tão amigos...

Sousa Tavares escreveu na sua crónica do Expresso no passado fim de semana, entre outras coisas, o seguinte:
"Bem-vindo ao ano de 2008 e a um país onde o terror passou a ser lei e o Estado democrático e republicano foi substituído por um Estado policial onde a totalidade dos cidadãos assume a condição de vigilantes da lei e da virtude e a totalidade das forças policiais estão mobilizadas para acorrer a todo o lado e reprimir na hora os prevaricadores dos bons costumes. Havia a Arábia Saudita, o Irão e os Estados Unidos. Agora há mais um país oficialmente fundamentalista: Portugal."...
"Só alguém com sérios problemas mentais poderia ter feito esta lei. E só uma Assembleia de deputados incompetentes e sem coragem nem vontade própria a poderia ter aprovado. É uma lei à medida de um país de polícias e de eunucos.."
Estou de acordo com uma grande parte do que escreve Sousa Tavares, e desconfio da bondade de um Governo que fecha Centros de Saúde e diz-se preocupado com os fumadores passivos.
Parece que hoje foi a vez de fazer as pazes com Sócrates num almoço no Gambrinus que durou até às quatro.
Ou será que Sócrates vai modificar a lei para permitir que Sousa Tavares possa fumar onde quiser?
Depois deste almoço fico cheio de curiosidade sobre o teor das próximas crónicas de Sousa Tavares.

domingo, janeiro 6

morreu um mestre


É difícil ser tão frontal e assumir as consequências da sua liberdade critica.

Não houve outro igual nas nossas letras.

E é pena que não haja mais Pachecos na nossa literatura. Alguém conhece?

E era assim que via os outros.


O homem tem uma cara de parvo chapado. Eu estou farto de ler o gajo. Um dia, entro numa livraria e pego nisto ("Boa Noite") e vejo: "Romance". Eu desato a rir a gargalhada! Isto lê-se em dez minutos, este gajo deve ser mas é maluco!"
Luiz Pacheco, sobre Pedro Paixão, em entrevista ao Jornal de Letras de 24 de Setembro de 1997

"O Lobo Antunes e o Saramago não estão a escrever para vocês nem para mim. Estão a escrever uma coisa género "standard", que é o romance internacional. (...) Como sabem que vão ser traduzidos, têm de fazer uma linguagem o mais corrente possível, mais linear, mais badalhoca."
Idem, ibidem

"O Big Brother é um disparate, mas pior é o Emídio Rangel".
Luiz Pacheco (escritor)
Focus, citado por Tal&Qual, 12-Abr-01

Agustina [Bessa-Luís] é a figura essencial na ficção, não tem parceiro. Ao pé dela, falar do Saramago é como falar do cão... A Agustina é ímpar a retratar os meios ligados ao poder e ao dinheiro.
(...)

O Eduardo Lourenço (...) já está um bocado gagá, mas foi muito importante. A Heterodoxia é um grande livro, que mudou a minha cabeça: tão contundente, tão extraordinário, tinha umas coisas de filosofia que, naquele momento, nem sequer consegui acompanhar.
(...)

[Eduardo Prado Coelho] é um tipo muito esperto, usa a inteligência para navegar. É muito antipático para mim, não gosto dele nem da maneira como escreve, mas não escreve mal.
(...) 

Sem papas na língua.

 

terça-feira, janeiro 1

para começar bem o ano


 

Não há melhor maneira de começar bem o ano, no que à musica diz respeito, do que ouvir  "As variações Goldberg" que  resultaram de uma encomenda, feita a Johann Sebastian Bach  pelo Conde Kaiserling, um aristocrata melómano.  
O conde Kaiserling sofria de insónias, pelo que decidiu encomendar a J. S. Bach umas peças para cravo, para Johann Goldberg que era um jovem  cravista talentoso, e aluno de Bach em Leipzig.
Bach  nesta obra explora no cravo todos os seus estados de espírito e a sua complexidade só  é comparável a outras duas obras do mesmo autor, os Livros 1 e 2 do Cravo Bem Temperado.  
A melhor versão considerada unanimemente pelos críticos é a tocada por Glenn Gould.  
Esta obra requer um grande virtuosismo por parte do interprete  e nenhum outro conseguiu imprimir maior claridade ao som do piano que Glenn Gould, que rejeita o uso do pedal produzindo assim unicamente  os sons que querem os seus dedos.  
Não deixem de a ouvir.