segunda-feira, setembro 3

salada de frutas



E, à volta da estreita loja, os frutos amontoavam-se.
Atrás, ao longo das prateleiras, estendiam-se
filas de melões, cantalupos listados de verrugas,
leguminosas de guipuras cinzentas, os múrices
purpúreos com as suas bossas nuas.
Em exposição, os belos frutos, delicadamente
dispostos em cestos, tinham formas redondas
de bochechas que se escondem, rostos de bonitas
crianças parcialmente entrevistos sob uma cortina de folhas;
sobretudo os pêssegos, os Montreuil rubros,
de pele fina e clara como as raparigas do Norte,
e os pêssegos do Sul, amarelos e tostados,
como as raparigas rosadas da Provença.
Os damascos adquiriam sobre o musgo tons de âmbar,
esses calores de pôr-do-sol que aquecem a nuca das morenas,
onde os cabelos se encaracolam.
As cerejas, dispostas uma a uma, lembravam os lábios demasiado
finos de uma Chinesa sorrindo.
As Montmorency, os lábios rechonchudos
de uma mulher gorda; as Inglesas, mais alongadas
e mais sérias; as ginjas-garrafal, polpa comum, negra,
tocada de beijos; as cerejas-garrafal,
manchadas de branco e rosa, com o riso
ao mesmo tempo alegre e zangado.
As maçãs e as pêras empilhavam-se
com regularidades de arquitectura, formando pirâmides,
mostrando rubores de seios nascentes,
ombros e ancas dourados, toda uma nudez discreta,
no meio das hastes de feto; eram de peles diferentes,
as maçãs camoesas no parreiral, as esperiegas amolecidas,
as maçãs camoesas de vestido branco, as reinetas-do-canadá
sanguíneas, as castanhas rosadas,
as reinetas louras, salpicadas de ruivo; depois,
as variedades de pêras, a pêra branca, a inglesa,
as pêras-manteiga, as "messire-jean", as duquesas,
atarracadas, alongadas, com pescoços de cisne
ou ombros apoplécticos, as barrigas amarelas e verdes,
realçadas por uma ponta de carmim.
Ao lado, as ameixas transparentes mostravam
doçuras eloráticas de virgem; as rainhas-cláudia,
as ameixas do senhor, empalidecidas por uma
flor de inocência; as mirabelas desfiavam como
as pérolas de ouro de um rosário,
esquecido numa caixa de paus de baunilha.
E os morangos, exalavam também eles um
fresco perfume, um perfume de juventude,
principalmente os pequenos, os que se colhem
nos bosques, mais ainda do que os grandes morangos
de jardim, que cheiram a insipidez dos regadores.
As framboesas acrescentavam um aroma a este odor puro.
As groselhas, os cássis, as avelãs, riam com ares sagazes;
enquanto cestos de uvas, pesados cachos
carregados de embriaguez, desfaleciam à volta do vime,
deixando pender os seus bagos queimados pelas
volúpias demasiado quentes do sol.

Le Ventre de Paris
ZOLA

1 comentário:

Anónimo disse...

que poema tão bonito, é que apetece comer a fruta, não conhecia e gostei muito.