sábado, março 1

soneto 101


Ó musa indolente, qual a tua desculpa 

P'ra esqueceres a verdade, tinta de beleza? 

Do meu amor dependo a, beleza e a verdade, 

Assim também tu, e nelas te dignificas. 

Responde, musa, tu não dirás porventura, 

Que à verdade não queiram dar cor, tem cor próprias ?

E à beleza não há pincel que dê cor pura ? 

o melhor não será, melhor sem ter misturas? 

Por não carecer de louvor, tu emudeces? 

Não desculpeis o silêncio, pois está em ti 

Fazer que sobreviva ao túmulo doirado 

E receba louvores nos anos vindouros. 

Faz o teu oficio, musa, que hei-de ensinar-te .

A mostrá-lo à distância como ele é agora. 


Shakespeare


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