
Na entrevista ao Expresso deste fim de semana Morais Sarmento entre muitos disparates diz que se não for rico aos 50 anos provavelmente se candidata a primeiro ministro.
NA MANHÃ SEGUINTE CESARE PAVESE
NÃO PEDIU O PEQUENO ALMOÇO
Logo que desceu do comboio,
só, atravessou a cidade deserta,
entrou sozinho no desocupado hotel,
franqueou a porta do quarto individual,
e escutou com assombro o silêncio.
Dizem que levantou o auscultador
para chamar a alguém
nas é falso, completamente falso.
Como se houvesse alguém a quem chamar -
ninguém vivia na cidade, ninguém no mundo.
ingeriu a água, as pequenas drageias,
e esperou a chegada do sono.
Com um certo receio pela sua saúde -
tinha pela primeira vez firmado a sua existência -,
talvez curioso, com amolecidos gestos,
sentiu chegar o peso das pálpebras.
Horas depois - um enigmático sorriso
desenhava-lhe os lábios -
a si mesmo anunciou, convictamente,
a única certeza que no fim tinha adquirido:
jamais voltaria a dormir só num quarto de hotel.
Juan Luís Panero
Ontem desloquei-me à ordem dos arquitectos onde Frederico Valsassina e Manuel Aires Mateus apresentaram, numa sessão pública o seu projecto de construção de um edifício de habitação e comércio no Largo do Rato, em Lisboa.
Fui com alguma expectativa, já que o que tinha lido apresentava o edifício como uma coisa que se devia evitar construir a todo o custo.
Depois do projecto de arquitectura ter sido aprovada em 22 de Julho de 2005 a proposta de emissão da licença de construção apresentada por Manuel salgado em 30 de Julho foi chumbada por todos os membros da oposição, alguns dos quais tinham já aprovado o projecto de arquitectura.
O Instituto Português do Património Arquitectónico, IPPAR (hoje Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico) considerou o projecto «urbanisticamente favorável» e propôs a sua aprovação.
Na sala estavam mais que 400 pessoas entre os quais Helena Roseta e Manuel Salgado.
Os autores explicaram o projecto, e mais tarde defenderam-se das criticas que alguns dos presentes lhes fizeram, nomeadamente sobre a altura do edifício sobre a monumentalidade que lhe atribuem e sobre a sombra que projectará na sinagoga dois edifícios mais ao lado.
Devo dizer que poucas vezes assisti a um debate com a qualidade deste.
Das criticas que foram feitas - a maioria gostava do projecto- defenderam-se os arquitectos não só com a lei - altura das cércea-, como com a qualidade do edifício, o porquê do seu revestimento a pedra, a razão porque o levantaram do chão, etc.
Considerei que defenderam muito bem a sua proposta e saí dali convencido que aquele edifício enriquece a cidade de Lisboa.
No entanto, a determinada altura começou a criar-se a ideia que o edifício a ser ali construído deveria ser uma “coisa” que seria criada à medida que as pessoas iam fazendo sugestões. Uma dizia que o edifício deveria ter menos pisos, outros que não deveria ser tão grande, outros que se deveria ali reconstruir a pequena escala do mamarracho que lá está. Enfim, mas pessoas não percebem que um debate sobre um edifício não é para se fazer um edifício de acordo com o gosto da maioria.
Os arquitectos devem antes de o projectarem ouvir a cidade para que o que aí construírem seja também uma obra saída da discussão. Mas depois disso devem ser os arquitectos que têm a responsabilidade de criarem um edifício de acordo com a sua sensibilidade e qualidade estética.
Para certificarem a qualidade arquitectónica lá estarão os serviços da câmara que devem ser compostos por pessoas sérias, isentas e idóneas.
Quero eu dizer que a discussão deve ser democrática mas a decisão tem de ser de quem assina o projecto.
Depois o reconhecimento público de uma carreira na arquitectura é feita pela quantidade de projectos em que os arquitectos souberam interpretar o sentir colectivo.
O debate durou três curtas horas e saí a pensar :porque será que só as grandes obras suscitam discussão, já que todos os dias se constroem prédios horríveis em Lisboa e sobre eles não se escreveu uma linha.